Primeiro capítulo do livro Os desafios da terapia, de Irvin Yalom.
Quando eu era um jovem estudante da psicoterapia em busca do caminho a seguir, o livro mais útil que li foi Neurose e desenvolvimento humano: a luta pela auto-realização, de Karen Horney. E o conceito isolado mais útil desse livro foi a noção de que o ser humano possui uma propensão inata para a auto-realização. Se os obstáculos forem removidos, acreditava Horney, o indivíduo se desenvolverá e se transformará num adulto maduro plenamente realizado, assim como da bolota se desenvolverá um carvalho.
"Assim como da bolota se desenvolverá um carvalho..." Que imagem maravilhosamente libertadora e elucidativa! Mudou para sempre a minha abordagem da psicoterapia por me oferecer uma nova visão do meu trabalho: minha tarefa era remover os obstáculos que bloqueiam o caminho do meu paciente. Não precisei fazer todo o trabalho; não precisei incitar no paciente o desejo de crescer, com curiosidade, vontade, gosto pela vida, afeição, lealdade ou qualquer uma da infinidade de características que nos tornam inteiramente humanos. Não, o que tive de fazer foi identificar e remover os obstáculos. O resto se seguiria automaticamente, alimentado pelas forças de auto-realização dentro do paciente.
Lembro-me de uma jovem viúva com, segundo as suas próprias palavras, um "coração avariado" — uma incapacidade de, algum dia, voltar a amar. Pareceu assustador lidar com a incapacidade de amar. Eu não sabia como fazê-lo. Mas, e dedicar-me a identificar e desarraigar seus muitos bloqueios para amar? Isso eu poderia fazer.
Logo descobri que o amor lhe parecia traiçoeiro. Amar outro seria trair seu esposo falecido; dava-lhe a sensação de estar fincando os últimos pregos no caixão do marido. Amar outro tão profundamente quanto ela o havia amado (e ela não aceitaria nada menos que isso) significaria que o amor por ele tinha sido de alguma forma insuficiente ou imperfeito. Amar outro seria autodestrutivo porque a perda, e a dor lancinante da perda, era inevitável. Voltar a amar parecia irresponsável: ela era maligna e desafortunada, e seu beijo era o beijo da morte.
Trabalhamos com afinco durante muitos meses para identificar todos esses obstáculos que a impossibilitavam de amar outro homem. Durante meses, lutamos corpo a corpo contra um obstáculo irracional de cada vez. Mas uma vez que isso foi feito, os processos internos da paciente assumiram o controle: ela conheceu um homem, apaixonou-se, voltou a se casar. Não precisei ensiná-la a procurar, dar-se, respeitar, amar — eu não saberia como fazê-lo.
Algumas palavras sobre Karen Horney: seu nome não é familiar à maioria dos jovens terapeutas. Uma vez que o período em que os teóricos eminentes permanecem em circulação em nosso campo tem sido cada vez mais curto, deverei, de tempos em tempos, recair em reminiscências — não meramente como uma homenagem, mas para enfatizar o argumento de que o nosso campo reúne uma longa história de colaboradores incrivelmente capazes que erigiram alicerces profundos para o nosso trabalho terapêutico atual.
Uma contribuição singularmente americana para a teoria psicodinâmica é personificada pelo movimento "neofreudiano" — um grupo de clínicos e teóricos que reagiu contra o foco original de Freud sobre a teoria da pulsão, isto é, a noção de que o indivíduo em desenvolvimento é basicamente controlado pelo desenrolar e expressão das pulsões inatas.
Em vez disso, os neofreudianos enfatizavam que deveríamos considerar a vasta influência do ambiente interpessoal que envolve o indivíduo e que, durante toda a vida, molda a estrutura do caráter. Os teóricos interpessoais mais conhecidos, Harry Stack Sullivan, Erich Fromm e Karen Horney, estavam tão profundamente integrados e assimilados à nossa linguagem e prática terapêutica que todos somos, sem sabê-lo, neofreudianos. Isso me fez lembrar de Monsieur Jourdain, de O burguês fidalgo, de Molière, que, ao ouvir a definição de "prosa", exclama maravilhado: "E pensar que durante toda a minha vida falei em prosa sem saber."
Quando eu era um jovem estudante da psicoterapia em busca do caminho a seguir, o livro mais útil que li foi Neurose e desenvolvimento humano: a luta pela auto-realização, de Karen Horney. E o conceito isolado mais útil desse livro foi a noção de que o ser humano possui uma propensão inata para a auto-realização. Se os obstáculos forem removidos, acreditava Horney, o indivíduo se desenvolverá e se transformará num adulto maduro plenamente realizado, assim como da bolota se desenvolverá um carvalho.
"Assim como da bolota se desenvolverá um carvalho..." Que imagem maravilhosamente libertadora e elucidativa! Mudou para sempre a minha abordagem da psicoterapia por me oferecer uma nova visão do meu trabalho: minha tarefa era remover os obstáculos que bloqueiam o caminho do meu paciente. Não precisei fazer todo o trabalho; não precisei incitar no paciente o desejo de crescer, com curiosidade, vontade, gosto pela vida, afeição, lealdade ou qualquer uma da infinidade de características que nos tornam inteiramente humanos. Não, o que tive de fazer foi identificar e remover os obstáculos. O resto se seguiria automaticamente, alimentado pelas forças de auto-realização dentro do paciente.
Lembro-me de uma jovem viúva com, segundo as suas próprias palavras, um "coração avariado" — uma incapacidade de, algum dia, voltar a amar. Pareceu assustador lidar com a incapacidade de amar. Eu não sabia como fazê-lo. Mas, e dedicar-me a identificar e desarraigar seus muitos bloqueios para amar? Isso eu poderia fazer.
Logo descobri que o amor lhe parecia traiçoeiro. Amar outro seria trair seu esposo falecido; dava-lhe a sensação de estar fincando os últimos pregos no caixão do marido. Amar outro tão profundamente quanto ela o havia amado (e ela não aceitaria nada menos que isso) significaria que o amor por ele tinha sido de alguma forma insuficiente ou imperfeito. Amar outro seria autodestrutivo porque a perda, e a dor lancinante da perda, era inevitável. Voltar a amar parecia irresponsável: ela era maligna e desafortunada, e seu beijo era o beijo da morte.
Trabalhamos com afinco durante muitos meses para identificar todos esses obstáculos que a impossibilitavam de amar outro homem. Durante meses, lutamos corpo a corpo contra um obstáculo irracional de cada vez. Mas uma vez que isso foi feito, os processos internos da paciente assumiram o controle: ela conheceu um homem, apaixonou-se, voltou a se casar. Não precisei ensiná-la a procurar, dar-se, respeitar, amar — eu não saberia como fazê-lo.
Algumas palavras sobre Karen Horney: seu nome não é familiar à maioria dos jovens terapeutas. Uma vez que o período em que os teóricos eminentes permanecem em circulação em nosso campo tem sido cada vez mais curto, deverei, de tempos em tempos, recair em reminiscências — não meramente como uma homenagem, mas para enfatizar o argumento de que o nosso campo reúne uma longa história de colaboradores incrivelmente capazes que erigiram alicerces profundos para o nosso trabalho terapêutico atual.
Uma contribuição singularmente americana para a teoria psicodinâmica é personificada pelo movimento "neofreudiano" — um grupo de clínicos e teóricos que reagiu contra o foco original de Freud sobre a teoria da pulsão, isto é, a noção de que o indivíduo em desenvolvimento é basicamente controlado pelo desenrolar e expressão das pulsões inatas.
Em vez disso, os neofreudianos enfatizavam que deveríamos considerar a vasta influência do ambiente interpessoal que envolve o indivíduo e que, durante toda a vida, molda a estrutura do caráter. Os teóricos interpessoais mais conhecidos, Harry Stack Sullivan, Erich Fromm e Karen Horney, estavam tão profundamente integrados e assimilados à nossa linguagem e prática terapêutica que todos somos, sem sabê-lo, neofreudianos. Isso me fez lembrar de Monsieur Jourdain, de O burguês fidalgo, de Molière, que, ao ouvir a definição de "prosa", exclama maravilhado: "E pensar que durante toda a minha vida falei em prosa sem saber."
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