Trechos extraídos da introdução do novo livro de Irvin Yalom, O carrasco do amor.
Na terapia, assim como na vida, a presença de significado é um subproduto do vínculo e do comprometimento, e é nesse sentido que os terapeutas devem dirigir seus esforços – não que o vínculo ofereça uma resposta racional às perguntas sobre significados, mas porque faz com que essas perguntas não tenham importância.(...)
Em seu trabalho cotidiano, quando os terapeutas se relacionam com seus pacientes de uma maneira autêntica, experienciam uma considerável incerteza. A confrontação de um paciente com perguntas sem resposta não somente expõe um terapeuta às mesmas perguntas, como ele também deve reconhecer que a experiência do outro é, ao final, inexoravelmente privada e incognoscível.(...)
Na verdade, a capacidade de tolerar a incerteza é um pré-requisito para a profissão. Embora o público possa acreditar que os terapeutas orientam os pacientes sistemática e confiantemente por meio de estágios predizíveis de terapia até um objetivo previamente conhecido, esse raramente é o caso: ao contrário, como estas histórias testemunham, os terapeutas com freqüência hesitam, improvisam e tateiam em busca de uma direção. A poderosa tentação de obter uma certeza abraçando uma escola ideológica e um sistema terapêutico hermético é traiçoeira: essa crença pode bloquear o encontro incerto e espontâneo necessário para uma terapia efetiva.
Esse encontro, o verdadeiro âmago da psicoterapia, é um encontro afetuoso, profundamente humano entre duas pessoas, uma delas (geralmente, mas nem sempre, o paciente) mais perturbada do que a outra. Os terapeutas possuem um duplo papel: devem tanto observar quanto participar da vida de seus pacientes. Como observadores, devem ser suficientemente objetivos para oferecer a orientação rudimentar necessária ao paciente. Como participantes, entram na vida do paciente, são afetados por ela e, algumas vezes, modificados pelo encontro.
Embora estes contos sobre psicoterapia estejam cheios das palavras paciente e terapeuta, não me deixo iludir por esses termos: estas são as histórias de todos os homens, de todas as mulheres. A condição de ser paciente é onipresente; a aceitação do rótulo é amplamente arbitrária e freqüentemente depende mais de fatores culturais, educacionais e econômicos do que da severidade da patologia.
Uma vez que os terapeutas, não menos que os pacientes, precisam se confrontar com esses dados da existência, a postura profissional da objetividade desinteressada, tão necessária ao método científico, é inadequada. Nós, psicoterapeutas, não podemos simplesmente tagarelar com simpatia e exortar os pacientes a se debaterem corajosamente com os seus problemas. Nós não podemos dizer a eles você e seus problemas. Ao contrário, devemos falar de nós e de nossos problemas, pois a nossa vida, a nossa existência, estará sempre presa à morte, do amor à perda, da liberdade ao temor e do crescimento à separação. Nós, todos, estamos juntos nisso.
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